terça-feira, 21 de outubro de 2008

À margem do moderno

Enfim! Saiu o primeiro trabalho de campo da nova etapa da FATO; era 11 de outubro de 2008. Alex, Fernando e eu fomos até os fundos do até então chamado "Jardim Cavalari" - lá, nos disseram que o bairro se chama Parque das Vivendas: andamos por um lugar recôndito, submerso, talvez, nos planos de vários prefeitos da cidade, todavia sendo a morada de inúmeras pessoas.

A porta de entrada do bairro é a junção de duas ruas de terra, e como uma chuva caía sobre aquela tarde de sábado que escolhemos para visitar, as ruas eram de pura lama. Ainda na entrada, se tem uma espécie de rotatória de mato, para o ônibus circular, e um boteco.

Para nos acompanhar e instruir na visita, encontramos o ir. Carlos, diácono da igreja evangélica Assembléia de Deus, localizada no bairro, que Alex previamente já havia visitado. A escolha da igreja para o contato inicial foi simples, afinal, uma igreja tende a ser freqüentada por um número significativo de pessoas, geralmente residente em suas proximidades.

Em sua casa, Carlos nos recebeu com seus filhos e sua esposa, que até nos serviu um suco. Comentou conosco suas observações sobre o local, após oito anos como morador. Para ele, e para todos os moradores que entrevistamos, o maior problema que enfrentam é a falta de asfalto. Sem asfalto, circulares, veículos que transportam as crianças às escolas e caminhões de lixo não passam por todo bairro, ficando seus itinerários restrito a “rotatória” da entrada. Os moradores também convivem com uma incerteza: não sabem se investem em reformas em suas casas ou se esperam a prefeitura os tirar de lá, visto que parte do bairro foi levantada sob uma área verde, até passando um córrego no fundo de algumas casas – que na realidade se transformou em esgoto, trazendo animais peçonhentos e doenças para dentro de alguns lares.

O bairro conta com uma associação de moradores que se reúne toda primeira terça-feira de cada mês, e marcamos uma reunião com o atual presidente do bairro, o seu Albino, porém, no dia combinado para uma maior conversa, seu Albino não se encontrava em casa.

Caminhando pelo fundo do bairro, depois do córrego, encontramos uma pequena favela, a chamada Favela do Universitário – em alusão ao vizinho bairro Universitário. Também conversamos com alguns moradores e as suas realidades chocaram nossos sentidos. A vida miserável, regada a esperanças de um ano eleitoral, trouxe inúmeras reflexões ao grupo que talvez nem cabe aqui mencionar em um breve relato. Moradores como seu Antônio pedem apenas por uma casa. Seu último barraco foi perdido em um incêndio, talvez ocasionado pelos “gatos” que fazem para buscar energia elétrica, e atualmente reside em um outro barraco feito pelas tábuas que restaram do incêndio.

Toda a favela está construída em uma área verde da cidade; não têm energia elétrica, tratamento de esgoto – que passa por entre os barracos – e muito menos asfalto.

Estávamos em um outro tempo, em um outro vivido, fruto da modernidade urbana, porém isolada da mesma, do deleite do capital.

Por Pedro Meinberg.



Vista de uma rua do bairro Vivendas

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